quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Matando as saudades de andar na rua


Ontem, dia 14 de agosto, foi feriado aqui no Paquistão. Dia da Independência. Eu aproveitei o feriadão e escapei para Berlim. Foi ótimo. Cheguei lá quinta-feira e fiquei até segunda (cheguei na madrugada de terça em Islamadabe). Percebi que mais do que qualquer outra coisa, eu estava simplesmente com uma saudade enorme de andar na rua e não ser percebida. Ser anônima, mostrando os ombros, as pernas (na verdade, estava meio friozinho, não deu pra mostrar as pernas não...). Saudades de sentar num bar, na rua, tomar uma cerveja, aproveitar o dia, bater um papo, ver homens e mulheres, bicicletas, carros, cachorros. Só isso. Tão simples. Que saudades de não ser exótica...

Antes que me perguntem, é claro que a experiência aqui no Paquistão tem sido ótima. Coisa assim pra vida toda, pra ter muitas histórias, não me arrependo de ter deixado o Brasil para trás. E não só isso, não é só interesse antropológico pelo desconhecido, tem sido divertido mesmo. E apesar dos problemas óbvios do país, da distância e tudo o mais, tem sido uma felicidade. É também, porém, uma das experiências mais confinantes da minha vida. Tenho receio de andar de short e blusa de manga cavada até dentro de casa. O corpo aqui é algo muito escondido. As roupas são feitas quase para aprisionar, para esconder, para reprimir. Não pode mostrar acima dos joelhos, não pode mostrar os ombros, não pode isso, não pode aquilo. Outro dia saí da academia e ainda de roupas justinhas de esportes me dirigi até o carro, cruzando todo o Hotel Serena (onde fica a academia). Foi um atrevimento. Tenho aos poucos tentado me preocupar menos com isso, mas é difícil.

Nunca a minha vida foi tão definida pela religião como nesses quase três meses no Paquistão (não parece bem mais que três meses?). Tudo, mas tudo mesmo, da roupa, da comida, da bebida, do trabalho, do modo de se relacionar com as pessoas, do modo de andar nas ruas, todas as relações são definidas pela religião. A rotina do dia-a-dia é definida pela rotina da religião. Sem entrar no mérito, mas uma reflexão importante. Às vezes eu chego em casa e percebo o guarda rezando no jardim. É outro mundo.

Agora durante o Ramadã, as coisas ficaram um pouco mais tensas. Até saiu matéria no jornal The Guardian sobre batidas da polícia em cafés que vendiam muffins durante o dia. É, muffins. Já imaginaram? Muffins.

A boa notícia é que meu container chegou e com isso as minhas coisas do Brasil. Aparentemente veio tudo inteiro, só ainda não consegui descobrir onde foram parar as minhas calças jeans, que sumiram. Mas ainda restam caixas a serem abertas, há esperança.

Outra coisa boa é que semana que vem estarei novamente na estrada. O destino dessa vez será o Sri Lanka., uma semana, com direito a um dia (compras!) em Dubai. Ou seja, muitas fotos nas próximas semanas.

4 comentários:

  1. Que pena que não haja, por enquanto, um feriadão por aqui pra gente poder dar uma fugidinha pra Berlim. Muito boas as tuas reflexões sobre fazer coisas comuns no ocidente.
    Beijo
    Zeza

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  2. Interessante, são coisas que a gente nem se dá conta até passar por uma situação dessas (ou ler o relato de alguém próximo que está passando por isso!). Amanhã vou sair pro trabalho faceira de poder andar na rua sem preocupação...

    Beijos!
    Alice O.

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  3. Estar em Berlim é bárbaro de qualquer maneira, mas sentindo e refletindo sobre as coisas simples da vida, é a verdadeira felicidade.
    Boa viagem para Sri. E muita, muita felicidade!
    No aguardo das fotos.
    Beijo,
    Cris

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