terça-feira, 12 de março de 2013

Um casamento à paquistanesa

Um dos aspectos mais intrigantes do Paquistão para mim é a instituição do casamento e suas implicações na vida das famílias paquistanesas. Pela lei islâmica, o casamento é um contrato, chamado nikkah, e celebrado num único dia, mas a influência indiana fez com que as celebrações de casamento no Paquistão durem três ou quatro dias. Não vou listar os nomes de cada celebração aqui pois é grande a possibilidade de errar. Existem diversas tradições diferentes, mas em geral os principais eventos envolvem uma celebração entre as mulheres em que a noiva se despede da sua família e uma celebração entre os familiares do noivo que culmina com o noivo buscando a noiva na casa dela. Basicamente, o casamento na tradição paquistanesa é um contrato em que a família da noiva a entrega para a família do noivo, é um instituto de preservação da espécie e uma celebração da família e dos laços familiares. 

Ontem, fui convidada para participar do almoço que fecha as celebrações do casamento, o walima na tradição islâmica. É o banquete de casamento que ocorre após o nikkah. Foi uma situação um tanto inusitada considerando que se tratava de uma segunda-feira ao meio-dia. Os noivos chegaram com duas horas de atraso, e a maioria dos convidados também. Horário não é exatamente uma coisa que se leve ao pé da letra aqui no Paquistão. Depois da chegada, os noivos sentaram-se para tirar fotos com os convidados, que se revezevam no pequeno palco à frente do salão. Todas as mulheres estavam sentadas de um lado e os homens no outro lado (alguns casamentos têm incluisve uma separação física para que não haja contato entre homens e mulheres). Assim que o almoço terminou, os convidados se levantaram e foram embora. Não houve música ou qualquer outro tipo de celebração. Entre risadas, os paquistaneses me disseram que a maioria dos convidados estava ali para apenas almoçar mesmo e que a tradição era comer e ir embora imediatamente. 

Enquanto tomávamos o tradicional chá pós-refeição, paquistaneses presentes me contaram mais detalhes das festas de casamento. É costume, por exemplo, que a noiva permaneça sem sorrir ou expressar alegria durante as cerimônias, ela não deve sequer levantar os olhos durante as celebrações, em especial quando se despede da família. Após anunciado o noivado, os noivos (que muitas vezes são primos de primeiro grau) devem manter contato mínimo. Eles só poderão estabelecer uma relação mais intíma (e nem estou falando como namorados) após o casamento. Pelo menos hoje em dia eles podem trocar mensagens por celular ou pelo facebook para melhor "se entenderem", me disse uma paquistanesa. Ainda hoje muitos noivos se veem pela primeira vez no dia de casamento. 

Os casamentos arranjados são mais do que comuns por aqui. E ninguém esconde isso. É a costura social tradicional do país. Espera-se que os pais casem suas filhas e filhos, garantindo o futuro da própria família. Essa é a regra inclusive entre as classes mais abastadas, cujos filhos são mandados para estudar nas melhores universidade da Inglaterra e dos Estados Unidos e depois retornam prontos para o casamento. Se um filho ficou "solteirão", a culpa é dos pais. Uma menina de 24 anos, empregada e com diploma universitário, me disse que os pais arrajaram o casamento dela com um primo-irmão que ela conheceu quando era pequena. Ela disse que não queria casar com ele, mas que não havia outra possibilidade. "O que eu posso fazer? Não tem outra pessoa na minha vida", ela me disse...

E o que dizer depois disso? Meu espanto deve ser tão grande quanto o dos paquistaneses ao ouvirem que no Brasil é comum morar junto antes de casar.