terça-feira, 28 de agosto de 2012

Era uma vez... no Paquistão

Olá povo!

Já falei várias vezes aqui no blog sobre a questão da repressão com assuntos envolvendo o corpo (especialmente neste post) no Paquistão, sobre como devemos tapar ombros e pernas, como é difícil andar na rua, essas coisas. Nos últimos meses, o jornal Dawn, um dos mais importantes do país, tem feito uma série de reportagens com fotos antigas do Paquistão. O material é ao mesmo tempo maravilhoso e deprimente e mostra como o país passou por uma radical transformação nas últimas décadas. Vale a pena dar uma olhada.

Also Pakistan

Also Pakistan II

Also Pakistan III

Also Pakistan IV

Fiz aqui uma pequena seleção de fotos:

Menina mostrando os ombros e as pernas em uma moto (1969)... Nunca vi nem verei algo parecido 


Che Guevara em Karachi in 1965


Meninas paquistanesas participando de uma competição de natação (1970). Hoje em dia, imagino que uma cena dessas poderia dar até cadeia


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Ah, quando eu estive em junho em Lahore, mais especificamente na Food Street, eu e meus amigos brasileiros fomos entrevistados por uma apresentadora de TV, na rua, durante um show. A moça ficou tão entusiasmada quando viu que éramos do Brasil que pediu que cantássemos uma música brasileira... Pois é, cantamos Aquarela do Brasil e essa reportagem foi ao ar na TV paquistanesa na quinta-feira passada. Várias pessoas no trabalho me comentaram que me viram na TV! Eu estava no Sri Lanka e não pude ver, mas estou tentando achar o vídeo no youtube para postar aqui. 

Nós, entrevistados em Lahore

domingo, 26 de agosto de 2012

Sri Lanka II


Notas breves sobre o Sri Lanka:

- A primeira coisa a se observar no país é que os lugares têm nomes enormes e engraçados (Pollonaruwa, Anuradhapura, Kurunegala, Tissamaharama, Bandarawella) e o fuso horário em relação à Islamabade é de 30 minutos ou GMT +5h30.

- Foram 1.100 km de viagem pelo interior do Sri Lanka. Tirando a highway que liga Colombo a Galle (construída pelos chineses), as estradas são de pista única, sem acostamento ou calçada, com casa e comércio o tempo todo (tirando as regiões com floresta densa, o país é basicamente uma grande cidade). Foram mais ou menos 800 km nesses estradas. A dinâmica de ultrapassagem é tensa, pra dizer o mínimo. Mas sobrevivi!

- A comida tradicional é o arroz com curry (de camarão, frango ou peixe), servido com diversos acompanhamentos, como chutney de manga, lentilha, curry de batata, entre outros. É apimentado, mas estou me acostumando.

- Come-se muito bem no Sri Lanka. Existem ótimos restaurantes, especialmente os de fruto do mar. Até tubarão eu comi. 

- As crianças estão entre as mais lindas e simpáticas que já vi. Elas nos olhavam como se tivessem olhando para um princesa ou Barbie, tal a alegria.

- Não tive tanta preocupações com roupa no Sri Lanka. O mais difícil foi a visitação aos inúmeros templos budistas. Era preciso tirar chapéu e sapatos (um par de meia foi direto pro lixo) e tapar ombros e pernas acima do joelho (o que foi difícil porque andei o tempo todo de shorts). Aí tive que improvisar com panos como saia e o resultado foi meio ridículo. Os locais acharam engraçadíssimo.

- Por todo o país é possível ver templos e estátuas budistas, hindus e cristãs, além das mesquistas muçulmanas. Os templos hindus são os mais interessantes e cheios de detalhes, mas não visitei nenhum.

- Em função da colonização europeia, 8% da população é cristã, sendo que 88% destes são católicos.

- Além do catolicismo, os portugueses também deixaram de herança a inconfudível capacidade de integração com o povo local. É comum encontrar pessoas do Sri Lanka com sobrenomes do tipo Perera (sem I), Costa, Silva e Dias. 

De Silva e De Silva Advogados, em Kandy. Detalhe para a língua cingalesa, que é incompreensível, mas muito bonitinha...

- A guerra civil do Sri Lanka, que acabou em 2009, foi disputada principalmente nas regiões nortes do país, onde está a maioria dos tâmeis (etnia que pretendia separar-se do resto do país). Não vi nada de guerra nos lugares onde passei. Aparentemente o norte ainda está passando por muitas transformações e abrindo-se aos poucos para o turismo. O problema das minas terrestres ainda é presente.

Sri Lanka I

Voltei na madrugada passada para Islamabade. Confesso que é meio esquisito voltar pra casa e a casa ser no Paquistão, mas enfim, a viagem para o Sri Lanka foi simplesmente sensancional. Passei por muitos lugares e tenho muitas histórias para contar, então pretendo fazer vários posts sobre tudo que aconteceu. Como dizem os guias de viagem, o Sri Lanka é realmente um lugar vibrante. Não tem palavra mais perfeita para descrever o país. É incrível como um lugar que passou por uma brutal guerra civil durante 26 anos pareça tão bem. A guerra terminou em 2009 (de um lado cingaleses budistas, de outro tâmeis hindus), mas o que eu vi foi um país lindo, cheio de gente muito simpática e carinhosa, lugares incríveis, muita história (muito mais do que eu imaginava), muita diversidade religiosa e cultural. O percurso que fiz, de carro, foi o seguinte:

1. Colombo: A viagem começou na capital Colombo. Me surpreendeu a boa estrutura da cidade, com alguns arranhas-céus (aqui em Islamabade não tem nenhum, por isso o espanto), muitos hotéis de luxo, muitos restaurantes e lojas sofisticadas.

Vista do apartamento onde fiquei a primeira noite no Sri Lanka
2. Pinnewala: Em seguida, partimos em direção ao Hotel Kandalama e no caminho passamos pelo Orfanato de Elefantes (sim, isso mesmo) chamado Pinnewalla, onde curti muitos os elefantinhos e seus pais. Deu pra chegar bem pertinhos dos bichos e o lugar era lindo.



3. Dambulla: Antes de chegar no hotel, passamos pelas Cave Temples, que são exatamente isso: templos budistas em cavernas. Mais um lugar incrível.


4. Sigiriya: Esse foi talvez o lugar que eu mais gostei na viagem toda. São ruínas de um templo (ou um palácio, não se sabe ao certo) provavelmente construídas em torno do século 5 AC em cima de uma rocha. O mais interessante é que não há nenhum caminho natural para chegar lá em cima. Ainda hoje a subida é bem complicada. Na época da construção existiam apenas escadas de bambu...


5. Pollonaruwa: Essa é uma das antigas capitais da civilização cingalesa. Não esperava encontrar ruínas tão incríveis no Sri Lanka.


6. Anuradhapura: Seguindo a trilha das cidades antigas (declaradas Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco), a parada seguinte foi Anuradhapura. Além das ruínas das antigas citadelas (com jardins, templos, piscinas, etc), lá estão duas estupas ou dagobas (partes de monumentos budistas que contêm relíquias sagradas) que quando construídas, nos primeiros séculos depois de Cristo, só não eram mais altas que as pirâmides egípcias. São estruturas monumentais.


No canto direito inferior, é possível ver umas pessoas... Essa lugar é imenso.
7. Kandy: Depois de três noites no Hotel Kandalama visitando as cidades antigas, partimos para a praia de Galle, no sul. Antes, uma rápida passagem por Kandy, também cidade histórica. Lá fica o Templo da Relíquia do Dente, um dos lugares mais sagrados na cultura budista, pois lá está guardado um dente do Buda. Não é possível ver o dente (que fica dentro de uma série de caixas no estilo boneca russa), mas o templo é belíssimo e estava lotado.


8. Galle: Cidade linda! Os portugueses desembarcaram aqui em 1505 e começaram a construção de um forte, depois melhorado por holandeses (que colonizaram o Sri Lanka por cerca de 150 anos, até 1796) e ingleses. Aqui tive o prazer de tomar banho de mar no Índico, na praia paradisíaca de Unawatuna, que foi devastada pelo tsunami de 2004. 


9. Dubai: Na volta para o Paquistão, passei um dia em Dubai. Foi ótimo para fazer compras (meu guarda-roupa agradece) e apesar da loucura do lugar e dos problemas enfrentados com a Emirates (que deveria ter providenciado um hotel para passarmos a noite e não fez, tivemos que pagar do próprio bolso), foi uma experiência muito positiva. 

No topo do prédio mais alto do mundo, o Bujr Khalifa

Por enquanto era isso! Mas pretendo escrever mais detalhadamente sobre cada um dos lugares, então, voltem logo! :)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Matando as saudades de andar na rua


Ontem, dia 14 de agosto, foi feriado aqui no Paquistão. Dia da Independência. Eu aproveitei o feriadão e escapei para Berlim. Foi ótimo. Cheguei lá quinta-feira e fiquei até segunda (cheguei na madrugada de terça em Islamadabe). Percebi que mais do que qualquer outra coisa, eu estava simplesmente com uma saudade enorme de andar na rua e não ser percebida. Ser anônima, mostrando os ombros, as pernas (na verdade, estava meio friozinho, não deu pra mostrar as pernas não...). Saudades de sentar num bar, na rua, tomar uma cerveja, aproveitar o dia, bater um papo, ver homens e mulheres, bicicletas, carros, cachorros. Só isso. Tão simples. Que saudades de não ser exótica...

Antes que me perguntem, é claro que a experiência aqui no Paquistão tem sido ótima. Coisa assim pra vida toda, pra ter muitas histórias, não me arrependo de ter deixado o Brasil para trás. E não só isso, não é só interesse antropológico pelo desconhecido, tem sido divertido mesmo. E apesar dos problemas óbvios do país, da distância e tudo o mais, tem sido uma felicidade. É também, porém, uma das experiências mais confinantes da minha vida. Tenho receio de andar de short e blusa de manga cavada até dentro de casa. O corpo aqui é algo muito escondido. As roupas são feitas quase para aprisionar, para esconder, para reprimir. Não pode mostrar acima dos joelhos, não pode mostrar os ombros, não pode isso, não pode aquilo. Outro dia saí da academia e ainda de roupas justinhas de esportes me dirigi até o carro, cruzando todo o Hotel Serena (onde fica a academia). Foi um atrevimento. Tenho aos poucos tentado me preocupar menos com isso, mas é difícil.

Nunca a minha vida foi tão definida pela religião como nesses quase três meses no Paquistão (não parece bem mais que três meses?). Tudo, mas tudo mesmo, da roupa, da comida, da bebida, do trabalho, do modo de se relacionar com as pessoas, do modo de andar nas ruas, todas as relações são definidas pela religião. A rotina do dia-a-dia é definida pela rotina da religião. Sem entrar no mérito, mas uma reflexão importante. Às vezes eu chego em casa e percebo o guarda rezando no jardim. É outro mundo.

Agora durante o Ramadã, as coisas ficaram um pouco mais tensas. Até saiu matéria no jornal The Guardian sobre batidas da polícia em cafés que vendiam muffins durante o dia. É, muffins. Já imaginaram? Muffins.

A boa notícia é que meu container chegou e com isso as minhas coisas do Brasil. Aparentemente veio tudo inteiro, só ainda não consegui descobrir onde foram parar as minhas calças jeans, que sumiram. Mas ainda restam caixas a serem abertas, há esperança.

Outra coisa boa é que semana que vem estarei novamente na estrada. O destino dessa vez será o Sri Lanka., uma semana, com direito a um dia (compras!) em Dubai. Ou seja, muitas fotos nas próximas semanas.

sábado, 4 de agosto de 2012

Levantamento de peso ou tiro?


Confesso que tem sido frustrante assistir às Olimpíadas aqui no Paquistão. Vocês sabem que eu adoro esporte e por mim poderia tirar férias durante os Jogos só pra ficar na frente da TV vendo tudo. Os horários aqui são perfeitos. As principais competições começam por volta das 16h, 17h e um pouco depois disso eu chego em casa. Já as transmissões...

São três canais aqui passando a Olimpíada: o StarSports (que é um canal indiano), a ESPN (que não consegui descobrir se é da Índia ou da Ásia como um todo) e o PTV Sports (que é o canal paquistanês). A única competição que consegui assistir inteira foi a natação. Em geral, os esportes escolhidos para transmissão são badminton, tênis de mesa, levantamento de peso (é uma obsessão com esse esporte...), hockey (esse faz sentido, juntos Paquistão e Índia já levaram 11 ouros nesse esporte), saltos ornamentais, tiro esportivo (!) e ciclismo. Até agora não vi nenhum jogo de vôlei passando na TV. De basquete, só o glorioso China x Angola. Tudo bem, não esperava conseguir acompanhar os atletas brasileiros porque não faz sentido as TVs daqui acompanharem esses atletas, mas qual o sentido de interromper a transmissão de um jogo de futebol do Brasil para passar saltos ornamentais sem nenhum paquistanês ou indiano competindo?

Outra coisa engraçada que percebi  é que nem mesmo os comentaristas são avisados dos intervalos comerciais. O cara está no meio do comentário e de repente bum! Comercial... No PTV Sports, bem no meio da tela (não é no canto superior ou inferior) passa uma faixa dizendo “transmissão ao vivo e exclusiva” e essa faixa fica passando e passando bem no meio de tudo...

Curiosidade: O Paquistão não conquista uma única medalha em Jogos Olímpicos desde 1992.

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De bônus,aqui vai uma fotinho do final de semana passado, eu preparando um chimas pra galera estrangeira. Foi o maior sucesso!